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Alma do Diabo

Alma do Diabo

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05.08.22

Aos dezassete anos tinha a cabeça iluminada por poemas pujantes de significado obscuro que prometiam a imortalidade de um nome literário. Pereceria num duelo pela honra de alguém vagamente amado que vagamente o recordaria quando o caso lhe chegasse aos ouvidos.

A juventude interrompida é uma tragédia celebrada.

Aos setenta e oito anos, aposentado da Função Pública, passa os dias no cadeirão, junto à janela, sob o olhar atento da defunta emoldurada que lhe deu três filhos, um cadeirão e dois ataques cardíacos. Do exterior, sobem rugidos de motores e latidos de transeuntes com pressa. Pensa muito no passado. Arrepende-se de tudo e sobretudo da vida após os dezassete.    Por: Augusto Bessa