Impressões em três linhas
As bombas atómicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki pelo exército aliado, durante a Segunda Guerra Mundial, vitimaram por volta de 200 mil pessoas. Pelo menos não foram crimes de guerra!
Por: Filipe Fidalgo
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As bombas atómicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki pelo exército aliado, durante a Segunda Guerra Mundial, vitimaram por volta de 200 mil pessoas. Pelo menos não foram crimes de guerra!
Por: Filipe Fidalgo
Eugénio Lisboa escusa de agradecer o acrescento dado ao título do livro. Um bom comprador gosta sempre de saber melhor o que compra. Este engenheiro electrotécnico que já sabia ler antes da escola primária, segundo palavras suas, compôs em 2021 o livro, VAMOS LER UM CÂNONE PARA O LEITOR RELUTANTE. Portanto, a sugestão dada é que um leitor desinteressado possa alimentar o gosto consumindo de início muita literatura de cordel. Assim, é definido CÂNONE um conjunto de obras e autores que o ilustre engenheiro acha valerem a pena serem consumidos. A ideia não parece má, mas a construção de CÂNONE parece exagerada para um género tão específico de leitor: português - não gosta de ler - não tem referências literárias - não tem tempo de ler - só lê autores “FÁCEIS” (“não é com vinagre que se apanham moscas” escreve a dada altura o engenheiro). O autor faz o CÂNONE que não é o “seu cânone”, pois este é feito para os relutantes, ou seja, para os básicos da literatura que nunca aprenderam a ler antes de entrar na escola e que na adolescência não leram Hemingway, Tolstói, Balzac, Poe, Oscar Wilde, entre muitos outros.
Bom, o livro inicia com histórias giras sobre literatura e os anos da formação como leitor. Aí desvenda obras que o marcaram e transgride a linha orientadora para o projecto, nomeia autores consagrados da literatura mundial (convém mostrar que leu canónicos a sério). Antes de chegar à sua tão expectante lista de 35 obras “canónicas” o autor defende as suas obras de eleição e ataca as que não aprecia. Dessa forma navega na crítica indeterminada e injustificada para renegar alguns nomes consagrados da literatura portuguesa e mundial, alguns porque são difíceis outros porque não gosta (apreciem):
GABRIELA LLANSOL “Neste momento entre nós, dá muito estatuto citar-se, de preferência, logo a seguir a Camões, Gabriela Llansol, e não há aspirante à glória literária e ao Panteão que não se sinta obrigado a saudá-la e a pô-la entre os mais… é pensam eles, um seguro sinal de inteligência, mesmo que não percebam nada de todo aquele charabia oracular.”
JAMES JOYCE “mas também aposto que a maioria dos depoentes nunca passou das primeiras 30 ou 40 páginas do Ulisses, não por serem particularmente difíceis, mas por serem intoleravelmente chatas, e como dizia o outro (que outro Eugénio?), com imensa piada, desnecessárias”
GIL VICENTE “De mais chato havia no teatro de Gil Vicente: o chatíssimo Auto da Alma”
AGUSTINA BESSA-LUÍS “Quando me ponho a ler os aforismos desorientados de uma Agustina Bessa-Luís ou de alguns dos seus inspirados discípulos, tenho a impressão de estar a defrontar-me com ejaculações de uma pitonisa embriagada” (discípulos e ejaculação, que mente! bravo, mais disto Eugénio por favor)
Apesar de parecer mentira, estes trechos não tem mais justificação, é mesmo só isto! Não é só de acusação curta e simplória, há um conjunto de afirmações que carecem de nomeação e de respostas a perguntas elementares - Como? Porquê? Quando? Quem?:
“Mais de 90 por cento dos nossos escritores acreditados no mercado livreiro e no mercado dos prémios dir-vos-ão que admiram muito o Ulisses de James Joyce…mas também aposto que a maioria dos depoentes nunca passou das primeiras 30 ou 40 páginas” (eu também aposto ó Eugénio… tragam mais uns tremoços para a mesa por favor!)
“Acho igualmente de um cómico irresistível ler as listas de livros que certos notáveis da nossa praça dizem levar para férias e recomendam aos amigos”
“Twain (a quem os ceguetas de Estocolmo nunca se dignaram a dar o mais que merecido Nobel) (E a minha Ritinha que deveria ter ganho o prémio de teatro na escola?)”
“…como é um enorme pesadelo ler tanto dos nossos literatos que buscam o opaco e o profundote como valor”
“Entre nós parece haver um culto, de um snobismo provinciano, da dificuldade, do aborrecimento, do opaco, da circunvolução, do arrebicado, do complicado, que confundem com complexo. O simples e transparente parece-lhes pouco chique, intelectualmente falando”
“os poetrosadores que por ai abundam excedem-se a ocultar, atirando-os para a penumbra, os grandes oficiantes de uma arte poética excelsa, que fingem desprezar”
Da douta lista destaca-se logo o primeiro nome, Miguel Sousa Tavares com o seu Equador, merece a atenção de cinco páginas numa defesa acérrima. Na sua tese não se aprofunda dos componentes da obra que merecem reconhecimento mas em questões decorativas. Sem responder porquê compara Sousa Tavares a nomes que também venderam muito bem como Balzac Steinbeck ou Dostoiévki. Portanto o tamanho conta. Margarida Rebelo Pinto, Paulo Coelho e Barbara Cartland também venderam muito mas “são puro lixo” porquê Eugénio? Talvez no próximo volume nos dê a resposta. MST ganhou prémios lá fora e em Portugal nesses anos atribui-se o prémios a autores menores… Então Eugénio a obra é boa afinal porquê? Ganhou prémios e vendeu bem talvez seja suficiente para um relutante começar a ler. O senhor engenheiro termina esta defesa de honra continuando com a ideia de que um livro que se vende bem não pode ser premiado e remata com esta comparação infeliz “Miguel Sousa Tavares tem absolutamente razão: por este critério, As Vinhas da Ira, de Steinbeck, ou O Adeus às Armas, de Hemingway, teriam irremediavelmente afastado o prémio que ambos os escritores receberam”(Oh engenheiro eles são ceguetas, lembraste?)
Nesta viagem canónica percorremos os elogios estéreis, ocos e exagerados dos 35 nomes desta lista (lista esta para ign.. RELUTANTES, importa lembrar que o engenheiro tem um outro cânone para si), ora vejamos:
DAVID MOURÃO FERREIRA “Custa-nos deixar de fora o ensaísmo, sector em que foi um grande mestre, de uma cultura, penetração, originalidade e sedução”
SILVIO LIMA “A obra mais lúcida e de maior acerto acerca da natureza da literatura ensaísta em Portugal”
DOMINGOS MONTEIRO “O nosso maior contista de todos os tempos”
ANTÓNIO SÉRGIO “O vulto que se segue é de um dos mais importantes pensadores e ensaístas portugueses do século XX, se não de toda a nossa história cultural”
Grandes máximas dignas de uma boa badana, que grande vendedor.
Para pôr os relutantes da leitura a ler basta criticar injustificadamente os autores ditos consagrados e elogiar também injustificadamente os acessíveis? Talvez ache que um leitor relutante precisa de uma obra ensaística da mesma medida, o que pode ser perigoso, pode tornar o ensaio leve ou mesmo relutante em relação à verdadeira literatura.
Por: Luiz Miguel Aragão
Aos dezassete anos tinha a cabeça iluminada por poemas pujantes de significado obscuro que prometiam a imortalidade de um nome literário. Pereceria num duelo pela honra de alguém vagamente amado que vagamente o recordaria quando o caso lhe chegasse aos ouvidos.
A juventude interrompida é uma tragédia celebrada.
Aos setenta e oito anos, aposentado da Função Pública, passa os dias no cadeirão, junto à janela, sob o olhar atento da defunta emoldurada que lhe deu três filhos, um cadeirão e dois ataques cardíacos. Do exterior, sobem rugidos de motores e latidos de transeuntes com pressa. Pensa muito no passado. Arrepende-se de tudo e sobretudo da vida após os dezassete. Por: Augusto Bessa