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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Impressões em três linhas

24.10.22

O quadro de Claude Monet “Les Meules” foi atacado por dois activistas ambientais na Alemanha. Estes legitimam o acto lembrando que o uso de combustíveis fósseis mata-nos a todos. Não foi diagnosticado qualquer debilidade mental nestes indivíduos, ainda.

Por: Filipe Fidalgo

A teia do Kitsch

15.10.22

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A dada altura no Discurso de Jerusalém: O Romance e a Europa, Milan Kundera evoca o pensamento de Hermann Broch para explicar a influencia do kitsch sobre a modernidade “A palavra kitsch designa a atitude daquele que quer agradar a qualquer preço e à maioria. Para agradar é necessário confirmar aquilo que toda a gente quer ouvir, estar ao serviço das ideias feitas. O kitsch é a tradução da estupidez das ideias feitas para a linguagem da beleza e da emoção. Arranca-nos lágrimas de ternura por nós próprios, pelas banalidades que pensamos e sentimos. 

Kitsch (termo vindo do alemão) está numa zona próxima do banal, artificial, sensacional, emotivo, sentimental, uma mão cheia de sinónimos que, à luz do pensamento kantiano (tradição ocidental) transforma tudo o que por si é adjectivado como algo inferior. Foi utilizado pela primeira vez no século XIX, nos meandros do meio artístico alemão para descrever “algo vendido em substituição do objecto procurado”. A pop-art trouxe-lhe o banho necessário para lhe refrescar o apelido, elevando-o a um estilo artístico procurado pelas massas, não perdendo contudo, a sua fraca reputação no que diz respeito à qualidade. A metamorfose do seu significado ainda hoje ganha conteúdo, o “retro” personifica o kitsch-de-trazer-por-casa.

A possibilidade de obter o bonito e acessível são inevitáveis, sempre existiu uma pretensa por aquilo que não se consegue obter e por ser inacessível é tornado belo. O mercado kitschiano adquire assim expressão. Acontece que, a uniformização das massas não se submete apenas ao objecto, é importante preencher uma necessidade maior - o pensamento, a proporção da ideia a uma altura alcançável. Com isto o quotidiano ganha a capacidade de influenciar a expressão. O artista, sempre um obsequioso pela ruptura, um desconformado pelo quotidiano, um descobridor de caminhos ímpios e um cavaleiro da originalidade e da criatividade, é também ele, um produto da modernidade em que vive. Segundo Broch essa “modernidade revestiu-se da roupagem do kitsch”. Portanto, “dada a necessidade imperativa de agradar e de obter assim a atenção da maioria, a estética dos mass media é inevitavelmente a do kitsch; e à medida que os mass media abarcam e infiltram toda a nossa vida, o kitsch transforma-se na nossa estética e na nossa moral quotidianas” a beleza é exposta a uma simplificação atraente que a torna acessível e barata. 

Assim traduz Kundera o pensamento do alemão “até uma época recente, o modernismo significava uma revolta  não conformista contra as ideias feitas e o kitsch. Hoje, a modernidade confunde-se com a imensa vitalidade dos meios de comunicação de massas, e ser moderno significa um esforço desenfreado para se estar em dia, ser coforme”. O modernismo vive assim num patrocínio constante de algo maior a si - a sociedade que molda e que quer ser agradada. Talvez a sua sobrevivência depende disso, mesmo que, para isso, tenha de atingir novos significados, tal como o kitsch o fez sob outro ponto de vista. Nas sociedades ocidentais, o indivíduo cada vez é mais leve, tudo se transforma fácil, moldado e feito à sua medida, sendo difícil não se ficar agradado com as mordomias que se possuem. Esta bolha de prazeres mundanos submete qualquer forma de expressão num acto que não meta em causa a imensa agradabilidade com que nos regozijamos. A necessidade de agradar ao outro, torna-nos numa espécie de “outro" fora de órbita.

Por: Dinis de Sousa Reis

Impressões em três linhas

09.10.22

Os ucranianos encontraram “valas comuns” em zonas anteriormente ocupadas por russos. Dados oficiais revelam que as forças ucranianas já eliminaram 62060 pessoas (russas). Ainda não há notícia sobre o início da construção de cemitérios pelos ucranianos.

Por: Filipe Fidalgo

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03.10.22

FB_IMG_1663259384171.jpg Dois corpos, lado a lado, dispostos na vertical. Envolve-os o ar livre, desocupado.

Podemos pensar no espaço como a fronteira entre os seres, vivos ou inanimados. O espaço serve para ocupar e dividir. Aqui vemos dois homens a utilizar os braços como ponte. Tentam enganar-nos, somos levados a pensar que são o mesmo.

Após o susto inicial, entendemos que este monstro de quatro pernas é ilusão. Duas pessoas não podem ocupar um sítio em simultâneo. O acto sexual viola esta regra: duas mentes num só corpo desejam uma linha que as separe.

Portanto, se o espaço enquanto fronteira não existisse seríamos um.

 

Por: Augusto Bessa