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Milhares de … disseram “Chega” à corrupção
Vamos lá ver, a edição nº 59 do Folha Nacional tem na sua capa, escrito que milhares de pessoas se reuniram numa manifestação. Acontece que, a imagem por trás revela talvez um “bocadinho” menos. Na descrição diz serem 2 mil pessoas. Folheando o jornal percebe-se que a imagem da capa é a mais generosa e ilustrativa desses “milhares”. Acreditando que o partido patrocinador do jornal é de contas sérias e certas, como por norma se define, de bom tom seria aperfeiçoar a sua capa nº59 e torná-la mais “verdadeira”. Compreende-se que, dizer, “sessenta e oito pessoas disseram chega à corrupção” não engrandece a manchete e ridiculariza a manifestação, mas por exemplo, “milhares de dentes disseram chega à corrupção” já revela uma pontaria nos números. Mas se querem dar ao pasquim uma frase mais bojuda podiam ter tentado “Trilões de cabelos ondularam ao dizerem chega à corrupção”, aqui ainda mais reforçado sairiam os números e ao mesmo tempo, dá uma certa beleza à manifestação, pois fica subentendido o movimento. Uma versão que quisesse a justa medida poderia simplesmente escrever “Uma parte do país disse chega à corrupção”, seria porventura menos ousada na caça de números, mas duvidosa ao mesmo tempo, somos 10 milhões, uma pequena parte, são sessenta e oito pessoas e uma grande parte 9 milhões. Fica a sugestão.
Por: Filipe Fidalgo
A Alma do Diabo deseja-lhe um óptimo serão e um Santo Domingo!
“Com apenas umas poucas palavras que manejava com facilidade, atingia pináculos intelectuais que a nós exigiam anos de muito esforço para lá chegar. Dizíamos - Zorbás é uma grande alma - ou - É louco” assim descreve o narrador de Vidas e Andanças de Alexis Zorbás, a personagem fulcral da acção, Alexis Zorbás. Mas quem é então Georgios?
Aconteceu em 1915 o encontro de Georgios Zorbás com o ainda aspirante a mestre das letras gregas, Nikos Kazantzakis, num local próximo do Monte Athos. Uma rica e interessada amizade rebentou entre tão distintos cérebros e a experiência enquanto mineiro fez com que o velho Georgios desistisse das aspirações a monge e viajasse com o escritor para uma exploração mineira noutra região. Desta inesperada relação nasceram conversas ao pôr do sol e pela madrugada dentro entre um escritor, até então apagado, que procurava um tiro de ninfa e um velho vagabundo, derrotado pela vida mas feliz e animado pelos prazeres dos sentidos. Assim nasceu Alexis na cabeça de um criativo que se inspirou neste velho gaiteiro e muito fora das convenções da época, analfabeto e inteligente na acção, de uma intuição determinante, uma espécie de sábio moderno. Pai de quase uma dezena de filhos, viveu na pobreza a maior parte da vida, regateiro, esperto que trapaceou o destino. Em 1920 regista-se a última acção em conjunto, o salvamento de cerca de 100 mil gregos da região otomana em guerra, Pontus na Anatólia.
No final do ano passado as edições70 trouxeram-nos esta relíquia literária que, parece-me ter passado despercebido no cosmos literário lusitano. Kazantzakis coloca Zorbás (Alexis e por consequência Georgios) no seu palanque de influência juntando-o a Homero, Bergson e Nietzsche. Assim, lembra que a inteligência não advém apenas da leitura, do estudo, do ensino e das grandes invenções, pertence também ao ordinário, ao intuitivo, ao sobrevivente. Kazantzakis, fortemente adicto à filosofia, transformou a figura de Georgios num grande filósofo no sentido prático, que respondia pela certa e privilegiava do sabor da liberdade em cada movimento. Uma mente em ruptura com a Grécia no início do século XX. A acção atravessa uma Grécia em guerra contra o império Otomano, desconfiada, religiosa, fechada nos seus preconceitos, que usa as paixões da tradição para evocar os desejos. Os altos saberes de um intelectual que passeia um livro do Buda debaixo do braço e raciocina o seu movimento a todo o instante não alcançam a simplicidade saloia de um quase-selvagem, pobre, que viveu para trabalhar e apenas se ocupa do santouri para tocar a felicidade em raras ocasiões. A nossa atenção, se for activa, revela-nos ensinamentos inesperados e sem amarras aprendemos sempre por força do ouvido, eis uma lição nesta obra de Kazantzakis e também uma boa demonstração de humildade. Outra força impactante é o fascínio entre dois seres humanos, a relação que se torna mais do que amizade e que perpetua no íntimo de cada um. O escritor e o mineiro fluem numa conexão forte o suficiente para amansar a dureza das barbas o que permite a um homem admitir que ama.
O Zorbás que nos chega hoje é uma feliz história de acrescentos, já mais distante do Georgios que tinha nascido na Macedónia e que nunca tinha estado em Creta (espaço onde decorre a acção do livro). Alexis apenas tinha dois filhos e não dez e era, porventura, mais aventureiro e romanesco. Tantas outras personagens tem existência na vida de Alexis que muito provavelmente não existiram na realidade do velho Georgios. Em 1964, Michael Cacoyannis pegou na obra de Kazantzakis e deu-a ao mundo das imagens, conseguindo ganhar 3 óscares num total de 7 nomeações. Assim nasceu um outro Zorbás, o de Anthony Quinn, que lhe atribuiu uma aparência graciosa e o elevou a figura hollywoodesca. Mikis Theodorakis compôs a banda sonora e com isso, glorificou o folclore grego, dando um ritmo musical à dança do velho macedónio que se tornou mitológica.
Hoje a casa onde viveu Georgios Zorbás pode ser visitada como um museu, as praias onde a acção cinematográfica foi realizada são referências, bem como, as praias onde a verdadeira história aconteceu. Anthony Quinn ficou muito agarrado ao seu papel de velho Zorbás e tornou-se numa lenda por toda a Grécia. A coreografia da dança representada no filme de Cacoyannis é ainda hoje uma das maiores referências de folclore grego - sirtaki. A Grécia ensinou o mundo ocidental de que a força de um mito pode durar e dar alento às almas, em 1946 Nikos Kazantzakis deu uma grande contribuição. O que ele nos sugere é que estejamos atentos e saibamos escutar, assim estaremos disponíveis para achar o velho Zorbás por aí, pois ele existe, é real, está algures no nosso mundo.
Por: Dinis de Sousa Reis
O Outro Lado do Bigode, o cartoon da Lurdes.
Pastiche criado a partir das vinhetas de Jean Van Hamme e William Vance e adaptado para o Portugal e mundo contemporâneos pelos cronistas Lurdes e Bento.
Depois de em 2020 ter despedido 81 funcionários a Global Media Group rescindiu com mais 4 jornalistas. Marco Galinha, CEO, justificou em 2020 com a pandemia, agora com a guerra e a inflação. Em 20 anos o Diário de Notícias reduziu para metade os seus jornalistas.
Por: Filipe Fidalgo
A invasão à Ucrânia levada a cabo pela Rússia comemorou 1 ano. A guerra civil ucraniana vai comemorar 9 anos. A guerra civil no Iémen já leva 8 anos. As guerras afegãs já vão quase em 45 anos. O conflito israelo/palestino dura desde 1965… 58 anos!
Por: Filipe Fidalgo
Pastiche criado a partir das vinhetas de Goscinny e Uderzo e adaptado para o Portugal e mundo contemporâneos pelos cronistas Lurdes e Bento.