Honoré de Balzac . Beleza ideal
“Admirava naquele momento a beleza ideal cujas perfeições procurara até então na natureza, quando ia buscar a um modelo, muitas vezes ignóbil, as curvas de uma perna perfeita, a outro os contornos do seio, a outro ainda os seus brancos ombros; quando usava, enfim, o pescoço de uma rapariga, e as mãos de uma mulher, e os joelhos polidos de uma criança, sem encontrar nunca sob o céu frio de Paris as ricas e suaves criações da Grécia antiga. A Zambinella mostrava-lhe reunidas, bem vivas e delicadas, aquelas refinadas proporções da natureza feminina tão ardentemente desejadas, e das quais um escultor é, simultaneamente, o mais severo e o mais apaixonado dos juízes…
Era mais que uma mulher, era uma obra-prima! Naquela criação inesperada encontravam-se amor capaz de arrebatar qualquer homem e belezas dignas de satisfazer um crítico. Sarrasine devorava com os olhos a estátua de Pigmalião, que para ele descera de um pedestal. Quando a Zambinella cantou foi um delírio. O artista sentiu um frio, e depois um fogo que crepitou de repente nas profundezas do seu íntimo, daquilo a que, à falta de palavras, chamamos coração!”
BALZAC, Honoré de. Sarrasine. 1ª ed. Lisboa: Relógio d’Água editores, 2008.
Por: Celeste Sampaio