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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Impressões em mais do que três linhas

As horas de sono

31.12.23

O problema de Portugal é claro: dormidos de mais. Quando os estudos revelam que em média dormimos 6 horas por dia, alegramo-nos com a descoberta dos nossos problemas enquanto portugueses. Vamos lá ver, dormir 6 horas por dia significa dormir 180 horas num mês, 2160 horas por ano. Toda a gente percebe que são horas a mais de improdutividade e de descanso. Como é que nos queremos tornar na charneira da Europa a dormir tanto? Com tanta coisa para fazer ao final de um dia de trabalho, vamos dormir!? Tantas horas para ver em plataformas de streaming, livros às carradas todos os meses a sair, podcasts sobre tudo e mais um par de botas para ouvir a toda a hora, informação activa em 30 canais para assistir, e no fim de sabermos tudo isto, vamos para a cama descansar o cérebro? Como é que estamos atentos à actualidade? O cérebro necessita é de actividade contínua, só assim vai aparecer o próximo empreendedor que vai mudar isto tudo! 

Se continuarmos a agarrar-nos ao cansaço e à necessidade de sono, Portugal enquanto país só poderá morrer. Se não se fizer amor todos os dias, não vão nascer bebés e o futuro será órfão de portugueses. Apelo ao amor patriótico, ao que criará os presidentes e líderes  do amanhã. Apelo ao trabalho em casa durante toda a noite, é no silêncio que surgem as melhores decisões, temos de dar espaço para que elas apareçam. Balzac escrevia pela noite dentro, foi isso que fez dele o maior escritor francês de sempre. 

Já sei, os defensores do sono dizem “As consequências de dormir mal são inumeráveis, a curto e a longo prazo. Vários estudos têm enfatizado a relação entre o sono e o risco cardiovascular” tudo balelas. Já viram o nosso presidente Marcelo ter algum ataque cardíaco? O homem tem 75 anos e nunca dormir, todos sabemos que se não fosse isso nunca tinha chegado à presidência. Todas as noite ali a trabalhar para chegar a ser presidente, grande exemplo para todos nós. Por exemplo, o nosso antigo presidente Cavaco, dormia bem e até ataques teve enquanto discursava. Toda a gente sabe que já morreu, se tivesse dormido menos, ainda hoje daria conselhos importantes para a nossa nação.

 

Por: Filipe Fidalgo

Impressões em três linhas

30.12.23

A Faixa de Gaza ocupada maioritariamente por palestinianos é governada pelo Hamas. O conflito conhecido por Israel - Palestina, é agora escrito como Israel - Hamas. Se Israel entrasse em conflito com Portugal seria Israel - Partido Socialista.

 

Por: Filipe Fidalgo

Impressões em três linhas

30.12.23

Os Estados Unidos da América anunciaram novo pacote de ajuda à Ucrânia calculado em 225 milhões de euros. A União Europeia já gastou mais de 100 mil milhões de euros desde o início do conflito. Segundo Milhazes a Ucrânia precisa é de mais dinheiro. 

 

Por: Filipe Fidalgo

Louis-Ferdinand Céline . Tempo e espaço

21.12.23

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“Alguns meses modificam um quarto, mesmo que não se mexa em nada do que ele tem dentro. Por velhas, por escavacadas que as coisas estejam, assim mesmo encontram, não se sabe onde, força para envelhecer. Tudo tinha mudado à nossa volta. Não os objectos de lugar, bem entendido, mas as próprias coisas em profundidade. São outras, as coisas, quando as reencontramos, dir-se-á que possuem força para se imprimir em nós mais tristemente, com profundidade ainda maior, com mais suavidade do que antes, para se diluirem nessa espécie de morte que lentamente, amavelmente dia após dia se vai fazendo em nós de forma cobarde, perante a qual nos vamos empenhando em defender-nos sempre menos do que na véspera. Vemo-la enternecer-se cada vez mais, vemos enrugarem-se dentro de nós a vida, os seres e com eles as coisas que tínhamos abandonado banais, preciosas, por vezes temíveis. O medo de acabarmos marcou tudo isso com rugas enquanto calcorreávamos a cidade depois do prazer ou do ganha-pão.

Não tardará que em redor do nosso passado só existam pessoas e coisas inofensivas, lamentáveis e desarmadas, só erros que emudeceram.”

 

CÉLINE, Louis-Ferdinand. Viagem ao Fim da Noite. 6ª ed. Lisboa: Ulisseia, 2014.

 

Por: Celeste Sampaio

Louis-Ferdinand Céline . O Corpo

19.12.23

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“Como não passamos de recintos com tripas mornas e quase apodrecidas, havemos sempre de ter dificuldades com o sentimento. Estarmos apaixonados não é nada, mantermo-nos os dois juntos é que é difícil. A imundície, essa, não procura resistir nem desenvolver-se. Aqui, neste ponto, somos bem mais infelizes do que a merda; no nosso estado, a fúria de preservação constitui uma fortuna incrível.

Decididamente, não adoramos nada mais divino do que o nosso cheiro. Toda a nossa infelicidade resulta de termos de continuar a ser Jean, Pierre ou Gaston, custe o que custar e durante um ror de anos. Este corpo, fantasia carnavalesca de moléculas excitadas e banais, a todo o instante se revolta contra a farsa atroz da sobrevivência. As nossas moléculas, essas queridas, querem dispersar-se o mais depressa possível pelo universo! Sofrem por só terem de ser “nós”, cornos de infinito. Explodiríamos se tivéssemos coragem, apenas falhamos, dia após dia. Atómica, a nossa adorada tortura encerra-se com o orgulho ali, na nossa própria pele.”

 

CÉLINE, Louis-Ferdinand. Viagem ao Fim da Noite. 6ª ed. Lisboa: Ulisseia, 2014.

 

Por: Celeste Sampaio

Louis-Ferdinand Céline . O quotidiano

18.12.23

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“É triste, as pessoas que se deitam, vemos bem que lhes é indiferente se as coisas correm ou não como elas querem, vemos bem que não tentam compreender o porquê de estarem onde estão. Tanto lhes faz. Dormem de qualquer maneira, são enfatuadas, são broncas, nada susceptíveis, americanas ou não. Tem todas a consciência tranquila.

(...)
E o pior é pensar como vamos arranjar forças bastantes para continuar a fazer no dia seguinte o que fizemos na véspera e em tantos outros dias já passados, onde encontraremos forças para as diligências imbecis, para mil e um projectos que não conduzem a nada, essas tentativas de vencer a pesada necessidade, tentativas que abortam sempre e todas destinadas a convencer-nos, uma vez mais, de que o destino é insuperável, que todas as noites temos de cair na muralha com a angústia de ser sempre mais precário, mais sórdido, esse dia seguinte.”

 

CÉLINE, Louis-Ferdinand. Viagem ao Fim da Noite. 6ª ed. Lisboa: Ulisseia, 2014.

 

Por: Celeste Sampaio

Alberto Pimenta . Perspectiva sobre a morte

17.12.23

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“A morte é uma coisa que pertence à vida, embora muitos pensem que não. A morte digna é uma felicidade a que o homem tem direito. É, ainda, a busca da última felicidade possível para uma vida. A morte digna já não pode ser exatamente como no tempo dos romanos, na banheira, a cortar lentamente as veias, com rosas a boiar na água, rodeado dos amigos e das amigas… mas o que vejo hoje é que a maioria das mortes são indignas: as pessoas são depositadas em lares da terceira idade - que são eufemismos para matadouros: tal como as vacas e os bois, as pessoas, quando já não servem para o trabalho, vão para o matadouro. Porque esta é uma sociedade de trabalho, de produção!”

 

PIMENTA, Alberto. Que lareiras na floresta. 1ª ed. Porto: 7Nós, 2010.

 

Por: Celeste Sampaio

Diabopédia

10.12.23

Fernando Pessoa

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É um ser que se dedicou à magia negra. Consta que viveu uma vastidão de vidas em corpos diferentes e que, por consequência, também morreu muitas vezes. Uma dessas vezes foi outro escritor macabro que o matou. Conhecido como um louco que nunca foi internado como tal. De tão intelectual até a sua virgindade a perdeu intelectualmente. Só foi dada importância à sua obra postumamente. Quando falamos da sua obra, referimo-nos à sua obra publicitária claro está. É hoje reconhecido como o maior publicitário da cidade de Lisboa, local de onde raramente saiu. Viveu em várias casas que hoje são visitadas por turistas voyeur. Estes gostam de observar as retretes - usadas por Pessoa para conseguir pensamentos magistrais, a cama - onde o artista tinha intumescências e coçava a caspa e a indumentária - na qual procuram desesperadamente por gotículas de suor que ainda persistam. É um ser que anos após a sua morte deu prosperidade à cidade de Lisboa, que o digam os políticos que guardam os seus ossos nas gavetas lá de casa.

A sua poesia era extraordinária porque pôde ser importada. Dessa forma, os portugueses conseguem vender a ideia que são muito dados a letras. Portugal é um país de poetas - mais uma mágica de publicidade feita por Pessoa. Os seus versos tornaram-se importantes pois são óptimas legendas de fotografias partilhadas nas redes sociais. No fundo Fernando Pessoa era um português vulgar, gostava de horóscopos, lia jornais, achava que lá fora é que era bom mas recusava-se a sair de Portugal, gostava de uma boa pinga, tinha os seus vícios com o tabaco, era vaidoso e vivia sempre nas lonas...

Televisão da política de alguidar

09.12.23

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No lodo político nacional, em mais uma das dezenas de crises a prazo - que há-de terminar no surgimento de um qualquer próximo governo - há espaço para o “prime-time” televisivo ser aberto a entrevistas aos candidatos a futuros órgãos executivos. Pelo ecrã surgem alegres e sempre confiantes os putativos deputados da nossa república. Os órgãos televisivos esfregam as mãos com tanta carne pronta a cozinhar perante o olhar esfomeado dos telespectadores. Prepara-se o decoro e estudam-se os problemas a serem respondidos, por quem, em boa verdade, terá legitimidade para os resolver. O espectador português relaxa os glúteos no sofá e estaciona a manta nas pernas, aumenta o volume e empolga-se com a esperança de perceber se, o galopar das rendas vai ter travão ou, pelo menos, o que aquele partido vai fazer por isso, é que o 6,9 é um número pesado…

“Se for preciso vai repetir a geringonça?”, pergunta a jornalista.

Questões importantes antes de uma eleição é certamente conhecer em pormenor medidas que nos poderão alterar a vida, pensa sempre o espectador… 

“Acordos com a extrema direita é possível, sim ou não?”, pergunta o jornalista.

Parece que em Portugal a população sem-abrigo aumentou 25%, alguns deles, dizem as fontes, trabalham. Agora sim, esta entrevista vai ser esclarecedora do que deve ser feito com urgência…

“Porquê é que não houve uma coligação entre os partidos, não ganhariam com isso?”, pergunta a jornalista.

O espectador português sabe que os acordos e objectivos também lhe fazem parte da vida, tudo tem objectivo, as questões miúdas vem sempre primeiro. Claro que vai ser atirada uma pergunta sobre que medidas este político experiente possui para amenizar os contratempos provocados pela inflação, os 5.4% já provocam muitas insónias…

“Acha que o Pedro é radical? E o José Luís é moderado?”, pergunta o jornalista.

Claro que as perguntas sobre a saúde não escapam, interessa a todos, hoje até é com este liberal, todos querem saber qual a solução alternativa para o SNS, se é que existe…

“A sondagem diz que vai ter uma quebra de resultados, se perder deputados o que vai fazer depois?”, pergunta a jornalista.

Vamos acreditar em quem? Estes jornalistas pertencem aos melhores órgãos de comunicação, se conduzem estas perguntas é porque são interessantes, mas agora sim, interessa entender a matriz ideológica deste estadista sobre questões mundiais, será que devemos continuar a investir na Ucrânia? E Israel, qual a posição?

“Não quer admitir se admite coligar-se com o André para ser Governo?”, pergunta a jornalista.

Eis que vai chegar o momento, o Srº Alfredo que vive no interior julga que existe salvação para atrair pessoas, aquele pequeno lugarejo terá uma salvação, o estimado governamental vai partilhar a ideia sobre isso…

“E se não vencer as eleições aceita um governo socialista?”, pergunta a jornalista.

Os artistas políticos apresentam-se ao povo pela aparência, o sorriso às rasteiras interrogativas, a gravata a simbolizar confiança, a aparência a condizer com a expectativa do eleitorado. Em meia hora de perguntas insípidas, aquilo que se denomina como entrevista não passa de mais um programa de comentário político, o estadista é obrigado a perguntas sobre as questões que fazem a audiência da cadeia televisiva. Nesse enquadramento, a suposta entrevista alimentará mais horas de debate televisivo, onde os outros intervenientes do canal se encherão de pormenores para eternizarem a especulação habitual. Os reais problemas do país talvez estejam longe dos que as televisões se esforçam por cultivar diariamente, no entanto, não será a realidade uma criação da televisão? Se assim for, que façam uso da patente, e continuem a morrer calmamente. Enquanto fiel escudeiro, assistirei sempre ao espectáculo e trarei sempre comigo a faca e o alguidar.

 

Por: Dinis de Sousa Reis