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Alma do Diabo

Alma do Diabo

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19.09.22

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Definir é excluir. Os atributos de um objecto limitam-no. São como uma barreira

que o separa do mundo. Quando observas, restringes. Capturas alguém numa armadilha

mental.

Esticas o dedo indicador e o homem destaca-se:

- Óculos;

- Bigode;

- Fato-de-macaco;

- Corpo com um metro e setenta e sete centímetros de altura.

O transeunte olha-te, surpreendido, revelado. A alienação resulta da consciência

do que nos separa dos outros. Não tivesses identidade, não te sentirias só. Os seres

inanimados, apenas existem. Baixas o dedo indicador. O homem, sem atributos, dilui-se

na multidão.

Claro que a distância interfere com o acto de definir. Se te aproximas, conheces o

pormenor. Se te afastas, um plano geral oferece-se ao teu olhar. Uma selva de lanças e

patas de cavalo sobre um chão claro polvilhado de fragmentos de armas medievais.

Aproximas o olhar da Batalha de San Romano. Um rosto jovem avança, calmo. Dois

cavaleiros colidem e um levanta o machado enquanto o soldado no canto superior direito

mantém a besta ao ombro. A atenção salta de detalhe em detalhe até voltares ao caos da

batalha.

Manter a vigilância sobre tudo, sem perder a nitidez do mais ínfimo pormenor,

está, apenas, ao alcance do ser omnisciente conhecedor de todas as definições.

Por: Augusto Bessa

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