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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Louis-Ferdinand Céline . O Corpo

19.12.23

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“Como não passamos de recintos com tripas mornas e quase apodrecidas, havemos sempre de ter dificuldades com o sentimento. Estarmos apaixonados não é nada, mantermo-nos os dois juntos é que é difícil. A imundície, essa, não procura resistir nem desenvolver-se. Aqui, neste ponto, somos bem mais infelizes do que a merda; no nosso estado, a fúria de preservação constitui uma fortuna incrível.

Decididamente, não adoramos nada mais divino do que o nosso cheiro. Toda a nossa infelicidade resulta de termos de continuar a ser Jean, Pierre ou Gaston, custe o que custar e durante um ror de anos. Este corpo, fantasia carnavalesca de moléculas excitadas e banais, a todo o instante se revolta contra a farsa atroz da sobrevivência. As nossas moléculas, essas queridas, querem dispersar-se o mais depressa possível pelo universo! Sofrem por só terem de ser “nós”, cornos de infinito. Explodiríamos se tivéssemos coragem, apenas falhamos, dia após dia. Atómica, a nossa adorada tortura encerra-se com o orgulho ali, na nossa própria pele.”

 

CÉLINE, Louis-Ferdinand. Viagem ao Fim da Noite. 6ª ed. Lisboa: Ulisseia, 2014.

 

Por: Celeste Sampaio

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