Louis-Ferdinand Céline . O quotidiano
“É triste, as pessoas que se deitam, vemos bem que lhes é indiferente se as coisas correm ou não como elas querem, vemos bem que não tentam compreender o porquê de estarem onde estão. Tanto lhes faz. Dormem de qualquer maneira, são enfatuadas, são broncas, nada susceptíveis, americanas ou não. Tem todas a consciência tranquila.
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E o pior é pensar como vamos arranjar forças bastantes para continuar a fazer no dia seguinte o que fizemos na véspera e em tantos outros dias já passados, onde encontraremos forças para as diligências imbecis, para mil e um projectos que não conduzem a nada, essas tentativas de vencer a pesada necessidade, tentativas que abortam sempre e todas destinadas a convencer-nos, uma vez mais, de que o destino é insuperável, que todas as noites temos de cair na muralha com a angústia de ser sempre mais precário, mais sórdido, esse dia seguinte.”
CÉLINE, Louis-Ferdinand. Viagem ao Fim da Noite. 6ª ed. Lisboa: Ulisseia, 2014.
Por: Celeste Sampaio