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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Luigi Pirandello . Como me vejo e como me vêem

26.12.22

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“Se para os outros eu não era o que até agora acreditava ser para mim, quem era eu?

E os outros? Os outros não estão dentro de mim. Para os outros que olham or fora, as minhas ideias, os meus sentimentos tem um nariz. O meu nariz. E têm um par de olhos, os meus olhos, que eu não vejo e eles vêem. Que relação há entre as minhas ideias e o meu nariz? Para mim, nenhuma. Eu não penso com o nariz, nem faço caso do nariz enquanto penso. Mas os outros? Os outros que não podem ver as minhas ideias dentro de mim e vêem, de fora, o meu nariz? Para os outros, há uma relação entre as minhas ideias e o meu nariz que, suponhamos, se as minhas ideias fossem muito sérias e o nariz, pela sua forma, muito cómico, se punham a rir.

Prosseguindo esse pensamento, mergulhei nesta outra questão: eu não podia, enquanto vivia, representar-me a mim mesmo nos actos da minha vida; ver-me como os outros me viam; pôr o meu corpo diante de mim e vê-lo viver como o de outra pessoa. Quando me punha diante de um espelho, dava-se como que uma paragem em mim; toda a espontaneidade cessava, todos os meus gestos me pareciam fictícios ou estudados.

Eu não podia ver-me viver.”

 

PIRANDELLO, Luigi. Um, ninguém e cem mil. 3ª ed. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2014.

 

Por: Celeste Sampaio