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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Fragmento

02.01.24
O meu veneno é a rotina, Corrói as engrenagens do pensamento, Consome a alma em ruína.   Por: Augusto Bessa

Raul Brandão - A Vida e o Sonho

31.07.23
A vida é dura, a vida não se fez para sonhar; para triunfar é necessário bater para os lados sem ver quem vem, agarrar-se a gente com sofreguidão, morder... Ai dos vencidos! Pobres dos que hesitam um instante! Auxiliar alguém é perder tempo: prá frente! prá frente!... Fora o sonho! Para que é que em pequenos nos mentem e nos dizem que há amigos e afeições?... Entra a gente na vida com ilusões, que só se perdem com pedaços de alma, quando muito melhor seria dizer-nos que (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

29.07.23
EURIDICE - PARA ORFEU Para quem esgotou os últimos farraposDa carne (não há lábios nem faces!...)Não será um abuso dos direitosOrfeu descer ao Hades? Para quem rejeitou os últimos elosTerrestres... Quem no leito dos leitosRecusa a mentira da contemplaçãoE olha para dentro - o encontro é faca. Porque - todas as rosas do sangueSão a paga desta capa folgadaDa imortalidade...                           Tu, que me amasteAté ao nascer do Letes, dá-me a paz Da (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

28.07.23
OFÉLIA - EM DEFESA DA RAINHA Príncipe Hamlet! Deixa de incomodarOs vermes do jazigo... olha para as rosas!Pensa naquela - que mesmo rosa de um dia -Conta os últimos dias. Príncipe Hamlet! Deixa de denegrirO seio da rainha... Não compete a virgens -Julgar a paixão. Mais culpada é Fedra:Ainda hoje a cantam. E cantarão! - E vens tu, príncipe, com essaMistura de cal e putrefacção... Usas de má-línguaCom os ossos, Hamlet! Não cabe à tua menteJulgar o sangue em chamas. Mas (...)

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03.10.22
 Dois corpos, lado a lado, dispostos na vertical. Envolve-os o ar livre, desocupado. Podemos pensar no espaço como a fronteira entre os seres, vivos ou inanimados. O espaço serve para ocupar e dividir. Aqui vemos dois homens a utilizar os braços como ponte. Tentam enganar-nos, somos levados a pensar que são o mesmo. Após o susto inicial, entendemos que este monstro de quatro pernas é ilusão. Duas pessoas não podem ocupar um sítio em simultâneo. O acto sexual viola esta regra: (...)

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19.09.22
Definir é excluir. Os atributos de um objecto limitam-no. São como uma barreira que o separa do mundo. Quando observas, restringes. Capturas alguém numa armadilha mental. Esticas o dedo indicador e o homem destaca-se: - Óculos; - Bigode; - Fato-de-macaco; - Corpo com um metro e setenta e sete centímetros de altura. O transeunte olha-te, surpreendido, revelado. A alienação resulta da consciência do que nos separa dos outros. Não tivesses identidade, não te sentirias só. Os seres inanimados (...)

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05.08.22
Aos dezassete anos tinha a cabeça iluminada por poemas pujantes de significado obscuro que prometiam a imortalidade de um nome literário. Pereceria num duelo pela honra de alguém vagamente amado que vagamente o recordaria quando o caso lhe chegasse aos ouvidos. A juventude interrompida é uma tragédia celebrada. Aos setenta e oito anos, aposentado da Função Pública, passa os dias no cadeirão, junto à janela, sob o olhar atento da defunta emoldurada que lhe deu três filhos, um (...)

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22.07.22
Há um conflito entre o mocho e o homem. O mocho abre as asas e o homem abre fogo. Relâmpago, trovão e queda. O corpo com penas balança na cintura. Crepitar de passos em folhas secas até ao horizonte. Na ausência do Homem, a seiva flui, a Natureza regressa. Por: Augusto Bessa