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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Alberto Pimenta . As palavras do papagaio

17.09.23
“aprendi a dizer o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi a dizer que aprendi o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi que não aprendi o que não aprendi a dizer, diz ele. Comecei a dizer o que aprendi a dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, aprendi a dizer o que dizem que se pode dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, mas como dizem que o que se pode dizer apenas é o que já foi dito, diz ele de dentro da sua gaiola, só aprendi a dizer o que já foi dito,  diz ele, e como não (...)

Agustina Bessa-Luís . A infelicidade

10.07.23
“Quando se sofre na idade de ser feliz, nunca mais se acredita na felicidade; nem como acaso, nem como recompensa. Os nossos tormentos tornaram-se num hábito mais querido do que qualquer compensação… - A infelicidade é uma forma de renúncia, não tem nada que ver com a desgraça. É a mais ardente das amantes e por ela sacrificamos tudo: a honra e os amigos, e até Deus.”   BESSA-LUÍS, Agustina. Fanny Owen. 4ª ed. Lisboa: Guimarães Editores, 2002.   Por: Celeste Sampaio

Paul Valery . Amores e ódios, uma explicação

06.07.23
“Por que amo o que amo? Por que odeio o que odeio? Quem não sentiria o desejo de derrubar a mesa dos seus desejos e dos seus ascos? De mudar o sentido dos seus movimentos instintivos? Como é possível que eu seja ao mesmo tempo como um ponteiro magnetizado e como um corpo indiferente?… Contenho um ser menor, a quem tenho de obedecer para não sofrer uma pena desconhecida, que está morto. Amar, odiar ficam abaixo. Amar, odiar - parecem-me acasos.”   VALERY, Paul. O Senhor Teste. (...)

Paul Valery . A verdade de nós próprios

04.07.23
“É impossível recebermos a <verdade> de nós próprios. Quando a sentimos formar-se (é uma impressão) forma-se ao mesmo tempo um outro desusado eu… que nos orgulha… - de quem somos ciosos… (É um pináculo de política interna.)  Entre Eu claro e Eu turvo; entre Eu justo e Eu culpado, há velhos ódios e velhas conciliações, velhas renúncias e velhas súplicas.”   VALERY, Paul. O Senhor Teste. 1ª ed. Lisboa: Relógio d’Água editores, 2018.   Por: Celeste Sampaio

Honoré de Balzac . Beleza ideal

02.07.23
“Admirava naquele momento a beleza ideal cujas perfeições procurara até então na natureza, quando ia buscar a um modelo, muitas vezes ignóbil, as curvas de uma perna perfeita, a outro os contornos do seio, a outro ainda os seus brancos ombros; quando usava, enfim, o pescoço de uma rapariga, e as mãos de uma mulher, e os joelhos polidos de uma criança, sem encontrar nunca sob o céu frio de Paris as ricas e suaves criações da Grécia antiga. A Zambinella mostrava-lhe reunidas, (...)

Sophia de Mello Breyner Andersen . Pensar no futuro

01.07.23
“Mas não creio que ninguém, ali, nesse tempo, pensasse realmente no futuro. Só talvez dois ou três, cuja vida, mais tarde, tão eficiente e bem administrada, teve sempre um ar de coisa previamente fabricada. Mas só esses. Os outros todos não faziam nenhum cálculo sobre o futuro. Para eles o presente era um prazo ilimitado de disponibilidades, suspensão e escolha. Não calculavam o futuro - apenas, vagamente, o esperavam.”   ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner. Contos (...)

Educação Visual

13.05.23
Christo e Jeanne-Claude. "Wrapped Reichstag".  Início do projecto até à sua concretização: 1971 - 1995. Instalação: 14 dias a partir de 24 de Junho de 1995. Para embrulhar o Reichstag foram usados 100.000 metros quadrados de tecido grosso de polipropileno com superfície de alumínio e 15,6 quilômetros de corda de polipropileno azul, diâmetro de 3,2 cm. As fachadas, as torres e o telhado foram cobertos por 70 painéis de tecido feitos sob medida, duas vezes mais tecido que (...)

Jorge Luis Borges . Nostalgia do presente

03.05.23
"Naquele preciso momento o homem disse:  «O que eu daria pela felicidade  de estar ao teu lado na Islândia  sob o grande dia imóvel  e de repartir o agora  como se reparte a música  ou o sabor de um fruto.»  Naquele preciso momento  o homem estava junto dela na Islândia."   Por: Celeste Sampaio

Antoine de Saint-Exupéry. Antes do voo.

25.02.23
" E não é que não pense uma coisa muito diferente sobre a guerra, sobre a morte, sobre o sacrifício, sobre a França, mas falta-me um conceito orientador, uma linguagem clara. Penso por contradições. A minha verdade está reduzida a bocados e só os posso analisar um após o outro. Se ainda estiver vivo, vou esperar pela noite para reflectir. A noite bem-amada. À noite, a razão dorme, e as coisas são mais simples. As que são verdadeiramente importantes retomam a sua forma, (...)

Antoine de Saint-Exupéry. Antes do voo.

24.02.23
“Porque, acima de tudo, são fúteis, as missões que nos exigem. E cada dia ainda mais fúteis. Mais sangrentas e mais fúteis. Os que dão ordens não têm outro recurso, para se oporem ao desmoronar da montanha, a não o de lançarem os últimos trunfos na mesa. Dutertre e eu somos esses trunfos e ficamos a ouvir o Comandante, que nos explica o programa da tarde. Manda-nos sobrevoar, a setecentos metro de altitude, o parque de tanques da região de Arrás, no regresso de um longo (...)

Luigi Pirandello . Como me vejo e como me vêem

26.12.22
“Se para os outros eu não era o que até agora acreditava ser para mim, quem era eu? … E os outros? Os outros não estão dentro de mim. Para os outros que olham or fora, as minhas ideias, os meus sentimentos tem um nariz. O meu nariz. E têm um par de olhos, os meus olhos, que eu não vejo e eles vêem. Que relação há entre as minhas ideias e o meu nariz? Para mim, nenhuma. Eu não penso com o nariz, nem faço caso do nariz enquanto penso. Mas os outros? Os outros que não podem (...)

Gonçalo M Tavares . A bondade e a Técnica

25.12.22
“…Salvava os homens doentes que por si eram operados: o seu bisturi combatia a explosão e reinstalava a precisão e a ordem. Sentia-se digno porque a sua mão direita era, “em combate” (na operação) digna ela mesma. Mas a cada dia que passava os elogios e a admiração técnica que os doentes, os colegas médicos e o pessoal do hospital lhe dirigiam tornavam-se insuportáveis. Não o irritava ser considerado competente mas sim que essa competência fosse confundida com uma (...)

Clarice Lispector . Felicidade

24.12.22
“- O que é que se consegue quando se fica feliz?, a sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana. - Repita a pergunta…? Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros. - Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi. - Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação. A mulher encarava-a surpresa. - Que ideia! Acho que não sei o que você quer dizer, que ideia! Faça a mesma pergunta com outras palavras… (...)