Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alma do Diabo

Alma do Diabo

Televisão da política de alguidar

09.12.23
No lodo político nacional, em mais uma das dezenas de crises a prazo - que há-de terminar no surgimento de um qualquer próximo governo - há espaço para o “prime-time” televisivo ser aberto a entrevistas aos candidatos a futuros órgãos executivos. Pelo ecrã surgem alegres e sempre confiantes os putativos deputados da nossa república. Os órgãos televisivos esfregam as mãos com tanta carne pronta a cozinhar perante o olhar esfomeado dos telespectadores. Prepara-se o decoro e (...)

Bíquini, uma bomba atómica

02.09.23
Foi em 1946 que a jovem Micheline Bernardini, ousou pousar em público pela primeira vez, vestida com um biquíni. Segundo Louis Réard, o arquitecto da criação, a presença deste leve tecido nas sedosas peles femininas causaria o “efeito de uma bomba atómica”. Este ímpio francês causou a sensação requerida e, depois dos esgares de nojo reprimido dos primeiros olhares, rápido se transformou num íman que agarrou todos os corpos femininos. Para isso, outra “bomba atómica”  usa (...)

Georgios Zorbás, o mito da Grécia contemporânea

25.04.23
“Com apenas umas poucas palavras que manejava com facilidade, atingia pináculos intelectuais que a nós exigiam anos de muito esforço para lá chegar. Dizíamos - Zorbás é uma grande alma - ou - É louco” assim descreve o narrador de Vidas e Andanças de Alexis Zorbás, a personagem fulcral da acção, Alexis Zorbás. Mas quem é então Georgios? Aconteceu em 1915 o encontro de Georgios Zorbás com o ainda aspirante a mestre das letras gregas, Nikos Kazantzakis, num local próximo (...)

O Amor ao que se pode consumir

05.02.23
À pergunta de Ramin Jahanbegloo sobre a troca do desígnio marxista para a promessa californiana, vivida na Europa de leste, Steiner respondeu assim: “A Humanidade já não imagina o que é a vida desprovida de um ideal trágico. O marxismo, como o judaísmo, em relação ao qual representa um heresia, e como a cristandade, deu-lhe a honra de sugerir que o homem poderia ser diferente, melhor. A Califórnia responde ao homem que seja tal como é, que se divirta com os vídeos, as (...)

A piada como escape ao difícil acto de pensar

22.11.22
Conversavam assim Jacques com o seu amo: “Na vida meu, amo, não sabemos com o que havemos de alegrar-nos e com o que havemos de afligir-nos…caminhamos pela noite por baixo do que está escrito lá em cima, igualmente insensatos dos nossos desejos, na nossa alegria e na nossa aflição. Quando choro verifico muitas vezes que sou um tolo - E quando ris? - Verifico ainda que sou um tolo, porém, não posso deixar de chorar nem de rir: e é isso que me enfurece - o que tentaste? - (...)

A teia do Kitsch

15.10.22
A dada altura no Discurso de Jerusalém: O Romance e a Europa, Milan Kundera evoca o pensamento de Hermann Broch para explicar a influencia do kitsch sobre a modernidade “A palavra kitsch designa a atitude daquele que quer agradar a qualquer preço e à maioria. Para agradar é necessário confirmar aquilo que toda a gente quer ouvir, estar ao serviço das ideias feitas. O kitsch é a tradução da estupidez das ideias feitas para a linguagem da beleza e da emoção. Arranca-nos (...)

O lictor no mundo contemporâneo

29.09.22
Dizer “O Estado Novo acabou com o analfabetismo infantil”, ou “Céline foi o maior mestre das letras francesas do século XX”, ou simplesmente “Antigamente é que éramos uma grande nação”, são expressões que podem facilmente sugerir uma “intenção fascista” de quem as proferir, isto na interpretação moderna que se dá à linguagem e às opiniões. Este tribunal social rege-se pela leitura dicotómica do bom/mau, admissível/inadmissível, tolerável/intolerável, (...)

A família e a cor das conversas

26.07.22
  Como se de uma conferência de imprensa se tratasse, o pai dirige-se aos filhos e conversa univocamente durante 20 minutos. O pai era Marcello Caetano, o último representante do Estado Novo. Os filhos eram todo o povo português, ouvintes silenciosos da figura máxima do estado, que, com capacidades orwelianas entrava dentro das casas dos cidadãos, através da pequena caixa quadrada, numa imagem a preto e branco. A Rádio e “Telé-visão” Portuguesa ainda não tinha 13 anos (...)