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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Lambe-botas

02.06.25
“Vais lamber botas, mas também podes lamber cus, pichas e ratas” foi-lhe dito. Não seria difícil a tarefa. Quanto à língua de tanto lamber poderia apodrecer. Não se teria de preocupar, bastava sorrir. Qualquer sorriso protegia a língua imunda. O sorriso teria de ser preciso para ocultar o que se escondia por dentro. Nem sempre as botas eram as melhores. Algumas estavam bastante porcas. Nada que o lambe-botas não resolvesse. Algumas botas de tão lambidas estavam sempre (...)

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03.10.22
 Dois corpos, lado a lado, dispostos na vertical. Envolve-os o ar livre, desocupado. Podemos pensar no espaço como a fronteira entre os seres, vivos ou inanimados. O espaço serve para ocupar e dividir. Aqui vemos dois homens a utilizar os braços como ponte. Tentam enganar-nos, somos levados a pensar que são o mesmo. Após o susto inicial, entendemos que este monstro de quatro pernas é ilusão. Duas pessoas não podem ocupar um sítio em simultâneo. O acto sexual viola esta regra: (...)

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05.08.22
Aos dezassete anos tinha a cabeça iluminada por poemas pujantes de significado obscuro que prometiam a imortalidade de um nome literário. Pereceria num duelo pela honra de alguém vagamente amado que vagamente o recordaria quando o caso lhe chegasse aos ouvidos. A juventude interrompida é uma tragédia celebrada. Aos setenta e oito anos, aposentado da Função Pública, passa os dias no cadeirão, junto à janela, sob o olhar atento da defunta emoldurada que lhe deu três filhos, um (...)

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22.07.22
Há um conflito entre o mocho e o homem. O mocho abre as asas e o homem abre fogo. Relâmpago, trovão e queda. O corpo com penas balança na cintura. Crepitar de passos em folhas secas até ao horizonte. Na ausência do Homem, a seiva flui, a Natureza regressa. Por: Augusto Bessa