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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Alberto Pimenta . As palavras do papagaio

17.09.23
“aprendi a dizer o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi a dizer que aprendi o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi que não aprendi o que não aprendi a dizer, diz ele. Comecei a dizer o que aprendi a dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, aprendi a dizer o que dizem que se pode dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, mas como dizem que o que se pode dizer apenas é o que já foi dito, diz ele de dentro da sua gaiola, só aprendi a dizer o que já foi dito,  diz ele, e como não (...)

Raul Brandão - A Vida e o Sonho

31.07.23
A vida é dura, a vida não se fez para sonhar; para triunfar é necessário bater para os lados sem ver quem vem, agarrar-se a gente com sofreguidão, morder... Ai dos vencidos! Pobres dos que hesitam um instante! Auxiliar alguém é perder tempo: prá frente! prá frente!... Fora o sonho! Para que é que em pequenos nos mentem e nos dizem que há amigos e afeições?... Entra a gente na vida com ilusões, que só se perdem com pedaços de alma, quando muito melhor seria dizer-nos que (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

29.07.23
EURIDICE - PARA ORFEU Para quem esgotou os últimos farraposDa carne (não há lábios nem faces!...)Não será um abuso dos direitosOrfeu descer ao Hades? Para quem rejeitou os últimos elosTerrestres... Quem no leito dos leitosRecusa a mentira da contemplaçãoE olha para dentro - o encontro é faca. Porque - todas as rosas do sangueSão a paga desta capa folgadaDa imortalidade...                           Tu, que me amasteAté ao nascer do Letes, dá-me a paz Da (...)

A indústria do pão por André Schiffrin

29.07.23
Se há coisa que aprecio mais do que livros é de pão. Se me oferecem metáforas com pão para entender o funcionamento do mercado dos livros eu entendo. Foi o que André Schiffrin fez no seu livro O NEGÓCIO DOS LIVROS - COMO OS GRANDES GRUPOS ECONÓMICOS DECIDEM O QUE LEMOS (se calhar foi pelo título longo que isto não vendeu). Que pena, este pequeno livro da LetraLivre ter saído em 2013 e não em 2023, já que, tal como as ervas daninhas saltam em terra fértil, também os temas (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

28.07.23
OFÉLIA - EM DEFESA DA RAINHA Príncipe Hamlet! Deixa de incomodarOs vermes do jazigo... olha para as rosas!Pensa naquela - que mesmo rosa de um dia -Conta os últimos dias. Príncipe Hamlet! Deixa de denegrirO seio da rainha... Não compete a virgens -Julgar a paixão. Mais culpada é Fedra:Ainda hoje a cantam. E cantarão! - E vens tu, príncipe, com essaMistura de cal e putrefacção... Usas de má-línguaCom os ossos, Hamlet! Não cabe à tua menteJulgar o sangue em chamas. Mas (...)

Edgar Lee Masters – Epitáfios de Spoon River

14.07.23
CHASE HENRY Em vida eu fui o bêbado da vila; quando morri o padre negou-se a enterrar-me em solo sagrado. E isso acabou por ser para mim uma sorte, pois os Protestantes compraram este lote e enterraram aqui o meu corpo, junto à campa de Nicholas, o banqueiro e de Priscilla, a sua mulher. Considerai, ó almas prudentes e piedosas, como a vida, contra a corrente, traz honras funerárias a quem viveu na humilhação.   MASTERS, Edgar Lee. Spoon River (Uma Antologia). Tradução: José (...)

Edgar Lee Masters – Epitáfios de Spoon River

13.07.23
OLLIE MCGEE Vistes caminhar pelas ruas da povoação um homem cabisbaixo e de rosto cadavérico? É o meu marido. Esse que, com secreta crueldade, que nunca revelei, me roubou a juventude e a beleza; até que, por fim, enrugada, com os dentes amarelos, quebrado o meu orgulho, humilhada e submissa, desci a esta cova. E sabeis o que devora o coração de meu marido? O rosto que eu fui, face ao rosto que ele me deu! É isso que o arrasta para o sítio onde estou. Na morte, assim, alcancei (...)

Agustina Bessa-Luís . A infelicidade

10.07.23
“Quando se sofre na idade de ser feliz, nunca mais se acredita na felicidade; nem como acaso, nem como recompensa. Os nossos tormentos tornaram-se num hábito mais querido do que qualquer compensação… - A infelicidade é uma forma de renúncia, não tem nada que ver com a desgraça. É a mais ardente das amantes e por ela sacrificamos tudo: a honra e os amigos, e até Deus.”   BESSA-LUÍS, Agustina. Fanny Owen. 4ª ed. Lisboa: Guimarães Editores, 2002.   Por: Celeste Sampaio

Paul Valery . Amores e ódios, uma explicação

06.07.23
“Por que amo o que amo? Por que odeio o que odeio? Quem não sentiria o desejo de derrubar a mesa dos seus desejos e dos seus ascos? De mudar o sentido dos seus movimentos instintivos? Como é possível que eu seja ao mesmo tempo como um ponteiro magnetizado e como um corpo indiferente?… Contenho um ser menor, a quem tenho de obedecer para não sofrer uma pena desconhecida, que está morto. Amar, odiar ficam abaixo. Amar, odiar - parecem-me acasos.”   VALERY, Paul. O Senhor Teste. (...)

Paul Valery . A verdade de nós próprios

04.07.23
“É impossível recebermos a <verdade> de nós próprios. Quando a sentimos formar-se (é uma impressão) forma-se ao mesmo tempo um outro desusado eu… que nos orgulha… - de quem somos ciosos… (É um pináculo de política interna.)  Entre Eu claro e Eu turvo; entre Eu justo e Eu culpado, há velhos ódios e velhas conciliações, velhas renúncias e velhas súplicas.”   VALERY, Paul. O Senhor Teste. 1ª ed. Lisboa: Relógio d’Água editores, 2018.   Por: Celeste Sampaio

Honoré de Balzac . Beleza ideal

02.07.23
“Admirava naquele momento a beleza ideal cujas perfeições procurara até então na natureza, quando ia buscar a um modelo, muitas vezes ignóbil, as curvas de uma perna perfeita, a outro os contornos do seio, a outro ainda os seus brancos ombros; quando usava, enfim, o pescoço de uma rapariga, e as mãos de uma mulher, e os joelhos polidos de uma criança, sem encontrar nunca sob o céu frio de Paris as ricas e suaves criações da Grécia antiga. A Zambinella mostrava-lhe reunidas, (...)

Sophia de Mello Breyner Andersen . Pensar no futuro

01.07.23
“Mas não creio que ninguém, ali, nesse tempo, pensasse realmente no futuro. Só talvez dois ou três, cuja vida, mais tarde, tão eficiente e bem administrada, teve sempre um ar de coisa previamente fabricada. Mas só esses. Os outros todos não faziam nenhum cálculo sobre o futuro. Para eles o presente era um prazo ilimitado de disponibilidades, suspensão e escolha. Não calculavam o futuro - apenas, vagamente, o esperavam.”   ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner. Contos (...)

Diabopédia

25.05.23
José Saramago É um ser nascido na vila de Azinhaga que adoptou uma ilha nas Canárias como seu habitat predilecto. Dificuldades financeiras impediram-no de prosseguir os estudos académicos, mas frequentou a biblioteca com frequência para compensar. Conseguiu, assim, passar de serralheiro mecânico a Director-Adjunto do Diário de Notícias. O Saramago não é venenoso e tem na caneta e na língua os seus principais mecanismos de auto-defesa. Porém, torna-se agressivo quando mantido (...)

O Poeta da Habitação

05.05.23
No passado dia 8 de Março, o jornal Sol publicou parte da obra de um autor injustamente ignorado. Seu nome, António Frias Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários, ou, como gostaríamos de chamar-lhe, o trovador da habitação. A redação do Alma do Diabo, como digna representante das letras nacionais, não pode deixar passar despercebido este poeta e ao longo desta semana dará ao público os sublimes versos que sairam da pena do autor. (Recomendamos a leitura (...)

O Poeta da Habitação

04.05.23
No passado dia 8 de Março, o jornal Sol publicou parte da obra de um autor injustamente ignorado. Seu nome, António Frias Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários, ou, como gostaríamos de chamar-lhe, o trovador da habitação. A redação do Alma do Diabo, como digna representante das letras nacionais, não pode deixar passar despercebido este poeta e ao longo desta semana dará ao público os sublimes versos que sairam da pena do autor. (Recomendamos a leitura (...)

Jorge Luis Borges . Nostalgia do presente

03.05.23
"Naquele preciso momento o homem disse:  «O que eu daria pela felicidade  de estar ao teu lado na Islândia  sob o grande dia imóvel  e de repartir o agora  como se reparte a música  ou o sabor de um fruto.»  Naquele preciso momento  o homem estava junto dela na Islândia."   Por: Celeste Sampaio

O Poeta da Habitação

03.05.23
No passado dia 8 de Março, o jornal Sol publicou parte da obra de um autor injustamente ignorado. Seu nome, António Frias Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários, ou, como gostaríamos de chamar-lhe, o trovador da habitação. A redação do Alma do Diabo, como digna representante das letras nacionais, não pode deixar passar despercebido este poeta e ao longo desta semana dará ao público os sublimes versos que sairam da pena do autor. (Recomendamos a leitura (...)

O Poeta da Habitação

02.05.23
No passado dia 8 de Março, o jornal Sol publicou parte da obra de um autor injustamente ignorado. Seu nome, António Frias Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários, ou, como gostaríamos de chamar-lhe, o trovador da habitação. A redação do Alma do Diabo, como digna representante das letras nacionais, não pode deixar passar despercebido este poeta e ao longo desta semana dará ao público os sublimes versos que sairam da pena do autor. (Recomendamos a leitura (...)

O Poeta da Habitação

01.05.23
No passado dia 8 de Março, o jornal Sol publicou parte da obra de um autor injustamente ignorado. Seu nome, António Frias Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários, ou, como gostaríamos de chamar-lhe, o trovador da habitação. A redação do Alma do Diabo, como digna representante das letras nacionais, não pode deixar passar despercebido este poeta e ao longo desta semana dará ao público os sublimes versos que sairam da pena do autor. (Recomendamos a leitura (...)

Georgios Zorbás, o mito da Grécia contemporânea

25.04.23
“Com apenas umas poucas palavras que manejava com facilidade, atingia pináculos intelectuais que a nós exigiam anos de muito esforço para lá chegar. Dizíamos - Zorbás é uma grande alma - ou - É louco” assim descreve o narrador de Vidas e Andanças de Alexis Zorbás, a personagem fulcral da acção, Alexis Zorbás. Mas quem é então Georgios? Aconteceu em 1915 o encontro de Georgios Zorbás com o ainda aspirante a mestre das letras gregas, Nikos Kazantzakis, num local próximo (...)