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Alma do Diabo

Alma do Diabo

Fragmento

02.01.24
O meu veneno é a rotina, Corrói as engrenagens do pensamento, Consome a alma em ruína.   Por: Augusto Bessa

Alberto Pimenta . As palavras do papagaio

17.09.23
“aprendi a dizer o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi a dizer que aprendi o que aprendi a dizer, diz ele. aprendi que não aprendi o que não aprendi a dizer, diz ele. Comecei a dizer o que aprendi a dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, aprendi a dizer o que dizem que se pode dizer, diz ele de dentro da sua gaiola, mas como dizem que o que se pode dizer apenas é o que já foi dito, diz ele de dentro da sua gaiola, só aprendi a dizer o que já foi dito,  diz ele, e como não (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

29.07.23
EURIDICE - PARA ORFEU Para quem esgotou os últimos farraposDa carne (não há lábios nem faces!...)Não será um abuso dos direitosOrfeu descer ao Hades? Para quem rejeitou os últimos elosTerrestres... Quem no leito dos leitosRecusa a mentira da contemplaçãoE olha para dentro - o encontro é faca. Porque - todas as rosas do sangueSão a paga desta capa folgadaDa imortalidade...                           Tu, que me amasteAté ao nascer do Letes, dá-me a paz Da (...)

Marina Tsvetaeva - Depois da Rússia

28.07.23
OFÉLIA - EM DEFESA DA RAINHA Príncipe Hamlet! Deixa de incomodarOs vermes do jazigo... olha para as rosas!Pensa naquela - que mesmo rosa de um dia -Conta os últimos dias. Príncipe Hamlet! Deixa de denegrirO seio da rainha... Não compete a virgens -Julgar a paixão. Mais culpada é Fedra:Ainda hoje a cantam. E cantarão! - E vens tu, príncipe, com essaMistura de cal e putrefacção... Usas de má-línguaCom os ossos, Hamlet! Não cabe à tua menteJulgar o sangue em chamas. Mas (...)

Edgar Lee Masters – Epitáfios de Spoon River

14.07.23
CHASE HENRY Em vida eu fui o bêbado da vila; quando morri o padre negou-se a enterrar-me em solo sagrado. E isso acabou por ser para mim uma sorte, pois os Protestantes compraram este lote e enterraram aqui o meu corpo, junto à campa de Nicholas, o banqueiro e de Priscilla, a sua mulher. Considerai, ó almas prudentes e piedosas, como a vida, contra a corrente, traz honras funerárias a quem viveu na humilhação.   MASTERS, Edgar Lee. Spoon River (Uma Antologia). Tradução: José (...)

Edgar Lee Masters – Epitáfios de Spoon River

13.07.23
OLLIE MCGEE Vistes caminhar pelas ruas da povoação um homem cabisbaixo e de rosto cadavérico? É o meu marido. Esse que, com secreta crueldade, que nunca revelei, me roubou a juventude e a beleza; até que, por fim, enrugada, com os dentes amarelos, quebrado o meu orgulho, humilhada e submissa, desci a esta cova. E sabeis o que devora o coração de meu marido? O rosto que eu fui, face ao rosto que ele me deu! É isso que o arrasta para o sítio onde estou. Na morte, assim, alcancei (...)

Jorge Luis Borges . Nostalgia do presente

03.05.23
"Naquele preciso momento o homem disse:  «O que eu daria pela felicidade  de estar ao teu lado na Islândia  sob o grande dia imóvel  e de repartir o agora  como se reparte a música  ou o sabor de um fruto.»  Naquele preciso momento  o homem estava junto dela na Islândia."   Por: Celeste Sampaio

Adília Lopes - Avó Alda

24.11.22
"Avó Alda de lar da terceira idade em lar da terceira idade até morrer a fugir para a rua a partir braços a arranhar a cabo-verdiana contratada para tomar conta dela arrancou os anéis dos dedos deformados e foi pô-los na terra do vaso da begónia na varanda" Lopes, Adília. Dobra : poesia reunida, 1983-2021. 3 ª ed. - Porto : Assírio & Alvim, 2021. Por: Celeste Sampaio

Rilke. Da Primeira Elegia

22.11.22
  “Quem, se eu gritasse, me ouviria de entre as ordens dos anjos? e mesmo que um deles, de repente, me cingisse ao coração: eu desfaleceria da sua existência mais forte. Pois o belo não é mais do que o começo do terrível, que ainda mal suportamos e deslumbra-nos assim porque, imperturbado, desdenha aniquilar-nos. Todo o anjo é terrível.” Rilke, Rainer Maria. Elegias de Duíno e Os Sonetos a Orfeu. 1ª ed. - Lisboa : Quetzal, 2017 Por: Celeste Sampaio

De Rilke para Franz Kappus

21.11.22
  "Na mais silenciosa hora da sua noite, pergunte a si mesmo: tenho de escrever? Escave dentro de si à procura de uma resposta profunda. Se lhe for permitido encarar essa pergunta séria com um simples e forte "tenho", então construa a sua vida segundo essa necessidade; a sua vida, até ao âmago da hora mais indiferente e limitada, terá de se tornar um sinal e um testemunho para esse ímpeto. De seguida aproxime-se da natureza. Tente então, como um primeiro homem, dizer o que vê e (...)