Teorias Cínicas Liberais
O que é que é uma cultural liberal? Perguntem a Helen Pluckrose. Juntamente com James Lindsay, um “matemático com formação em física”, escreveram um livro chamado TEORIAS CÍNICAS, editado pela Guerra & Paz. O livro tem o mérito de dar porrada nas teorias woke - esmurrando vários conceitos com pormenor e exemplos, no entanto, se o deslindarmos encontramos um fim de básica promoção liberal, desmedida e sem controlo.
Logo a abrir temos uma romântica e ousada descrição do liberalismo como sendo “um espaço comum, que providencia uma estrutura para a resolução de conflitos em que as pessoas com vários pontos de vista políticos, económicos e sociais podem debater as várias opções de políticas públicas”. (Não se estariam a referir a um fórum romano?) Filósofos como Focault, Lyotard e Derrida são mencionados como os principais responsáveis da proliferação das actividades sociais a partir dos anos 60 do século XX. Estes mosqueteiros são vistos como os avozinhos que criaram os nossos activistas contemporâneos, a forma como questionaram o pensamento e o alteraram comportou o surgimento do pós-modernismo. Para o matemático e para a cultural liberal, este “progresso” cultural (não há como fugir, pós-modernismo não deixa de ser um conceito de evolução) é visto como a raíz de todos os problemas actuais e divulgador de activistas questionáveis e descabelados do mundo moderno. Focault (coitado do Focault deste livro, quase que é visto como um idiota que não percebeu que o seu pensamento iria dar), talvez o mais influente pensador do século XX, é visto de forma superficial e completamente traiçoeira, por exemplo, a sua visão sobre a complexidade da interpretação da verdade, é vista como sendo cepticismo científico, pois para estes liberais a verdade é objectiva e única.
A parte mais apreciável do livro está nos capítulos centrais, onde é exposta a excentricidade de figuras sinistras do mundo activista woke (Judith Butler, Lydia Brown, bell hooks), bem como comportamentos no mundo actual influenciados por esses mesmos activistas. Portanto, boa descrição e exposição, quanto à interpretação e a uma possível solução… Adiante.
No capítulo 8 dedicado ao “Pensamento e estudo sobre justiça social” lemos este primor de descriminação ideológica ”não é surpresa de que muitas pessoas de classe operária e pobre muitas vezes se sintam profundamente alienadas da esquerda de hoje - os marxistas apontam correctamente que adoptou preocupações muito burguesas. É profundamente irónico que um movimento que alega problematizar todas as fontes de privilégio seja liderado por académicos e activistas de classe média alta, tão altamente educados e, no entanto, tão alheios à sua condição de membros privilegiados da sociedade”, quer dizer, se for de esquerda, seja pobre, mistura-se a condição social de que o indivíduo é sujeito ou conseguiu ao seu princípio de pensamento ideológico.
No último capítulo os autores envolvem-se numa defesa acérrima ao liberalismo e levam o conceito mais para um sentido político, admitindo mesmo que o liberalismo é o único caminho que “leva ao progresso” - “Enquanto alguns, na extrema direita podem querer interromper o progresso e alguns na extrema esquerda consideram o progresso um mito e insistam que a vida nas democracias liberais ainda é tão opressora como sempre foi (obrigado, Focault), o liberalismo aprecia o progresso e está optimista de que ele continuará”, significa que, se há progresso não pode haver crítica; direita ou esquerda, são vistas como extremos que prejudicam a evolução e que os seus ideais não merecem a mínima atenção. (Desculpa-lhes Focault eles não sabem o que dizem) Mais à frente no mesmo capítulo (Alerta visão maniqueísta) continuam, “o liberalismo aceita que vai estar sempre em conflito com os poderes injustos e opressores e a mediar diferentes ideias”, esta linda frase que podia ter sido escrita pela Cinderela, na verdade não quer dizer nada, apenas quer fazer passar que tudo o que foge ao bom = liberalismo, é mau = todas as outras ideias. Mas ainda nesta frase, vamos brincar, experimentem, tirar a palavra liberalismo e substituir por fascismo, comunismo, socialismo, por aí fora… Continua a fazer igualmente sentido.
Com todo o vigor apresentado no último capítulo estes dois intelectuais do twitter deixaram cair uma pequena fúria de opressão, que pode revelar o seu lado democrático “o princípio político pós-moderno precisa de ser eliminado”. (Ups, não aguentaram) Ou seja, o princípio político pós-moderno - descrito pelos autores, o que quer dizer que, este princípio existe apenas na cabeça de quem elaborou a obra - deve ser eliminado, contradição total, já que, depois de 266 páginas de condenação à opressão que todos estes movimentos pós-modernos exercem, pretendem actuar da mesma forma, oprimindo-os igualmente, importa a pergunta, isto é que é ser liberal?
Os movimentos políticos de ordem liberal exercem uma força muito grande nas redes (É o que me dizem, não frequento muito estes bares), dizem alguns que estas correntes actuam como se fossem uma “matilha”, esfolam os seus opositores de opinião e defendem com dentes as suas visões de sociedade. Helen Pluckrose e James Lindsay espumaram-se bastante…
Por: Luiz Miguel Aragão